COMPORTAMENTO

De Lana del Rey a Selena Gomez: Por que as mulheres preferem homens 'feios'

Famosas desafiam padrões de beleza e despertam debate sobre o que realmente importa na atração e nos relacionamentos. Especialista explica como autoestima, segurança emocional e conexão pesam mais que aparência

Nomes de peso como Selena Gomez, Lana del Rey, Ariana Grande e Beyoncé têm chamado atenção midiática pela escolha de parceiros considerados fora do padrão de beleza. Entre os internautas, o comportamento ganhou um nome: shreking, termo que referencia o ogro do filme Shrek, símbolo de um relacionamento que quebra padrões estéticos e vai contra o exemplo de príncipes encantados difundido na indústria cultural por tanto tempo. 

Para desmistificar a atração por parceiros considerados esteticamente feios, o Correio conversou com a psicóloga e sexóloga Alessandra Araújo, que explica a fórmula das afinidades. Segundo a especialista, a atração padronizada deriva de fatores evolutivos e socioculturais.

Padrões de beleza tradicionais, como simetria facial e proporção corporal, associam-se inconscientemente à saúde, fertilidade e bons genes. “A mídia e a cultura reforçam esses padrões de forma incessante, moldando o que o cérebro aprende a considerar como desejável”, acrescenta. 

Já a atração por pessoas fora do padrão relaciona-se com fatores não físicos e experienciais. “Geralmente prioriza a inteligência, o humor, a personalidade, a segurança emocional ou a conexão profunda”, explica Alessandra. “As experiências de vida e o histórico de relacionamentos de uma pessoa podem levá-la a valorizar qualidades que transcendem a aparência, percebendo-as como mais confiáveis e satisfatórias a longo prazo.”

A escolha de alguém menos desejado socialmente funciona ainda como uma forma de autoproteção emocional. Para a psicóloga, a teoria do ajuste da atração sugere que, ao escolher um parceiro que é percebido como menos desejado ou que chame menos atenção, a pessoa pode estar inconscientemente buscando menor risco de infidelidade, abandono ou competição. “Essa escolha pode oferecer uma sensação de maior segurança e estabilidade no relacionamento”, resume. 

Conforme Alessandra, os padrões estéticos impostos socialmente agem como um molde invisível que define desde cedo quem é "digno" de desejo — o que pode culminar em uma performance. “Nas relações, o padrão interfere na autoestima, fazendo com que a pessoa que não se encaixa se sinta menos merecedora de um parceiro atraente ou sinta-se constantemente insegura sobre a permanência do parceiro, acreditando que ele poderia ter algo melhor”, analisa. 

A resistência em aceitar que mulheres podem relacionar-se com homens considerados feios reflete a persistência do duplo padrão de gênero e a visão utilitária da mulher no relacionamento, de acordo com a especialista. Enquanto a tolerância pressupõe que ele está compensando a aparência com poder, status, ou recursos financeiros, a resistência retrata suspeitas de desespero ou contentamento com pouco. 

Embora a exibição dos parceiros fora do padrão ajude a ampliar o debate sobre estética e representatividade, muitas vezes a reação pública trata esses casos como curiosidades ou exceções à regra. “Em vez de normalizar a diversidade, isso pode reforçar sutilmente a ideia de que o parceiro feio é um desvio que só celebridades ricas e seguras podem se dar ao luxo de escolher”, conclui a psicóloga.

 

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