CRIME

Briga por sexo barulhento reflete ansiedade na sociedade, avalia advogado

O desentendimento, que resultou em duas pessoas atingidas por facadas, teria começado após reclamações de ruídos vindos de uma das casas. Um homem de 50 anos está na UTI em estado grave. Especialista alerta para a escalada de conflitos entre vizinhos

Uma discussão entre vizinhos por causa de sexo barulhento terminou em tragédia na QSE 1, em Taguatinga Sul. Um homem de 50 anos, que estaria fazendo o ruído, e sua sobrinha, de 35, que estava na casa, foram esfaqueados durante um desentendimento que teria começado após reclamações de um vizinho sobre o barulho. O suspeito, de 53 anos, fugiu do local, mas foi capturado pela Polícia Civil.

Nas redes sociais, o caso repercutiu. Apesar de alguns comentários pejorativos, devido à motivação, a briga levantou o debate sobre os riscos da escalada de conflitos de convivência. Para o professor de direito penal do Ceub Victor Quintiere, episódios desse tipo refletem não apenas tensões locais, mas também o clima geral de ansiedade presente na sociedade.

"Infelizmente, situações assim ocorrem com frequência. Pequenos atritos se transformam em violência extrema por uma série de fatores, como a falta de diálogo, a impaciência e o estresse da vida cotidiana. Vivemos em uma sociedade cada vez mais ansiosa. Obviamente, nada disso justifica a violência dos agressores, mas esses elementos contribuem muito. Além disso, o uso de bebida alcoólica pode potencializar esses episódios, que precisam ser apurados pelas autoridades competentes", explica.

Quintiere reforça que a convivência em espaços compartilhados, como lotes ou prédios, tende a intensificar os atritos. Nesses casos, a presença de um mediador é fundamental. "Em locais como condomínios, a convivência naturalmente gera mais atritos. Por isso, é fundamental observar regras condominiais e de bom senso. O condomínio deve estar sempre à disposição para intermediar problemas. Quando não há um terceiro imparcial para mediar, as discussões entre moradores podem facilmente escalar", avalia.

Os sinais de que uma discussão está prestes a fugir do controle também merecem atenção. Segundo o professor, eles podem ser percebidos antes de a violência acontecer. "O tom de voz alterado, gesticulações agressivas e a aproximação física já são sinais claros de que a situação pode fugir do controle. A melhor forma de evitar tragédias é justamente interromper a discussão nesse momento. É essencial que o síndico ou síndica intervenha preventivamente para manter a boa convivência. Não é obrigatório que vizinhos sejam amigos, mas é indispensável que haja respeito às regras de convivência e de vizinhança", detalha.

Para o especialista, o caminho não é tentar resolver por conta própria, mas acionar as instâncias adequadas de resolução de conflitos. "Desde o início, a orientação é buscar o síndico para mediar o conflito. Se a questão não se resolve internamente, aí sim deve-se acionar órgãos oficiais, como a polícia. O que jamais pode acontecer é tentar resolver 'com as próprias mãos'. Para isso, temos o Poder Judiciário, que garante a tutela adequada dos conflitos", conclui.

Estado grave

Segundo informações da família das vítimas, o homem foi atingido no pescoço e no pulmão, sendo encaminhado em estado grave ao Hospital Brasília, em Águas Claras, onde permanecia internado na UTI até o fechamento desta edição. A sobrinha sofreu um corte profundo no braço, que teve um tendão rompido, e passará por cirurgia reparadora. Ambos foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros (CBMDF)

O caso, ocorrido no último sábado, foi registrado como tentativa de homicídio, lesão corporal e vias de fato na 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), que investiga as circunstâncias do crime. Segundo a Polícia Civil, o homem foi preso e está à disposição da Justiça.

 

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