AGRESSÃO E AMEAÇA

Pai de aluno agride e ameaça estudante em escola na Asa Sul

Em meio a acusações de furto de celular, homem desfere cabeçada em menor de 16 anos e profere ameaças de morte contra famílias; vítimas e testemunhas relataram que PMDF agiu com truculência ao atender a ocorrência

Caso foi registrado na 1ª DP -  (crédito: PCDF/Divulgação)
Caso foi registrado na 1ª DP - (crédito: PCDF/Divulgação)

Um simples caso de um celular extraviado serviu de estopim para uma sequência de atos de violência em uma escola pública na Asa Sul. O pai de um aluno acabou preso em flagrante, acusado de agredir fisicamente um adolescente de 16 anos com uma cabeçada, e de ameaçar de morte pelo menos três estudantes, prometendo "pegar" as famílias dos jovens. O caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul). Os eventos ocorreram na tarde desta quarta-feira (08/10) e transcorreram sob os olhos de dezenas de alunos.

Tudo começou na segunda-feira (07/10), quando o filho do homem, também estudante da mesma escola, teria esquecido ou sido vítima de furto de seu aparelho celular dentro do colégio. De acordo com o relato do próprio acusado à polícia, ele tomou conhecimento de que um adolescente estaria de posse do aparelho.

Insatisfeito com a resolução do caso pela secretaria da escola, o pai decidiu retornar ao local para "tirar satisfações". Foi nesse momento que a situação escalou para a violência. De acordo com as versões colhidas pela Polícia Civil, o adulto não encontrou o suposto autor do furto. Frustrado, dirigiu-se então a outro adolescente, de 16 anos.

Segundo os relatos unânimes, sem qualquer mediação de palavras, ele desferiu uma cabeçada no rosto do rapaz, atingindo-lhe o nariz e causando sangramento imediato. A violência física, no entanto, foi apenas o começo. Testemunhas e outras vítimas relataram uma série de ameaças aterrorizantes. A mãe do menino agredido contou que, segundo os alunos que filmaram a cena, o homem teria ameaçado: "vou pegar você, sua mãe e seu pai".

As ameaças se estenderam a outros dois adolescentes. Segundo relato da mãe de outro jovem, o filho dela também foi abordado pelo homem, que teria dito ao jovem que "iria pegar toda família e que iria voltar na escola". Outro estudante, representado por seu primo e responsável, ouviu do autor a intimidação: "Se vocês tiverem algum envolvimento com o roubo do celular do meu filho, eu vou pegar alguém da sua família, vou ficar vigiando todos na saída e entrada da escola".

Versão do acusado

Na delegacia, após ser advertido de seu direito de permanecer em silêncio, o homem, que foi assistido por uma advogada, negou veementemente ter proferido ameaças ou agredido o menor. Em sua defesa, ele apresentou uma versão diametralmente oposta.

Afirmou que, ao sair da escola, foi o adolescente (agredido) quem o abordou, informando que "sua mãe fazia parte de facção". O adulto disse ter se sentido ameaçado com essa declaração e, "alterado", teria apenas "encostado” o rosto no rosto do adolescente. Ele expressou confiança de que as imagens filmadas pelos estudantes comprovariam sua inocência.

Consequências Legais

O Delegado de Plantão considerou presentes a materialidade delitiva e indícios suficientes de autoria. Baseando-se nos depoimentos das vítimas, testemunhas policiais e nas imagens anexadas, o delegado registrou a ocorrência como ameaça (artigo 147 do Código Penal, por três vezes, uma para cada vítima) e por vias de fato (artigo 21 da Lei de Contravenções Penais).

Apesar da gravidade, como o autuado não possuía mandado de prisão pendente e se comprometeu a comparecer em Juízo, ele foi liberado após os procedimentos de praxe, nos termos da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais). O adolescente, mesmo sem lesão aparente no momento do registro, foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para a realização de exame de corpo de delito, a fim de documentar quaisquer consequências da agressão.

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Educação

Em nota, a Secretaria de Educação do Distrito Federal ressaltou que o caso, na verdade, teria ocorrido fora das dependências do Centro de Ensino Médio (CEM) Setor Leste, na Asa Sul. A pasta também pontou que, segundo a direção da escola, não houve comunicação prévia, por parte do pai mencionado, sobre o desaparecimento do aparelho celular. E que o estudante teria informado à equipe escolar, na terça-feira (7/10), que havia perdido o telefone. A gestão da escola tentou contato por ligação com o celular, na tentativa de localizá-lo, sem sucesso, e comunicou o ocorrido às turmas para auxiliar na busca pelo aparelho.

A unidade escolar também informou que tentou contato com os pais dos estudantes envolvidos e não obteve sucesso. A Coordenação Regional de Ensino (CRE) do Plano Piloto acompanha o caso e que a unidade escolar permanece à disposição das autoridades competentes para os devidos esclarecimentos. "A SEEDF repudia qualquer ato de violência, dentro ou fora das escolas, e reforça o compromisso com a segurança e o bem-estar da comunidade escolar", frisou a pasta.

Violência policial

Outro ponto que chamou atenção no caso foram os relatos acerca da atuação da Polícia Militar (PMDF). A mãe do adolescente agredido descreveu que, ao chegar ao local da confusão, deparou-se não apenas com a tensão gerada pelo suposto agressor, mas também com uma atuação policial que classifica como "truculenta"."Havia muita tensão e truculência por parte dos policiais, que agrediram menores, além das ofensas verbais, arma em punho e ameaçando fazer uso de spray de pimenta", afirmou.

Em sua versão, a postura das autoridades no local teria sido a de "proteger três adultos, truculentos, violentos e pisar na cabeça dos menores". Ela revelou que, no ápice da confusão, em frente a dois policiais, o suspeito teria confessado espontaneamente a cabeçada em seu filho e pedido desculpas. "Porém, na delegacia, mudou a versão dos fatos, como é comum dos agressores, pois não sabiam que estavam sendo filmados", completou a mãe. 

Em nota, a PMDF informou que, durante o atendimento da ocorrência, "os ânimos ficaram inflamados e alguns alunos apresentaram comportamento afrontoso e violento, inclusive contra os policiais. Diante da situação, os policiais solicitaram apoio de outras viaturas que compareceram ao local, os quais tiveram que fazer o uso da força necessária para conter alguns dos estudantes que se encontravam agressivos". As partes envolvidas na confusão foram contidas e conduzidas à DPCA e posteriormente à 1ª DP

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postado em 09/10/2025 14:36 / atualizado em 09/10/2025 20:12
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