
Há quem vista camisa por alguma causa; há quem vista cueca, shorts ou sunga, por outra. Neste segundo caso, estão os frequentadores das filas, nas bilheterias para Superman, que, lançado quinta passada, cravou um desafio para quem gosta de economizar, se divertindo. Na cor vermelha, quem colocar as vestimentas citadas, por cima de calça, recebe, no complexo de cinemas da rede Cinemark (Iguatemi, Pier 21 e Taguatinga Shopping), um ingresso gratuito (mas apenas na cobrança de entrada cheia, sem desconto de meia). Fique atento, pois não valem apetrechos como saia ou cueca samba-canção, e, igualmente, a promoção não é estendida para vestimentas que não sejam vermelhas. Perto da bilheteria, um barrado da Disney, ou melhor, do universo DC, foi o farmacêutico Gustavo Vieira, que vestia uma samba-canção quadriculada, longe da proposta da promoção. Conformado, ele desembolsou o ingresso regular, mas não escondeu a satisfação, à entrada da sessão: "Para mim, Superman é a definição do que seja um super-herói".
Mais pela graça do que pelo dinheiro economizado, o estudante de psicologia Mateus Rabelo, 27 anos, compareceu ao Pier 21, e sem demora, vestiu a cueca vermelha, ainda na fila. "Foi divertido, vir. Superman é o herói dos heróis — no universo das HQs, ele traz instrumentos para ensinar coisas para todas as idades. Mesmo sendo alienígena, ele traz mais humanidade do que muita gente. Superman representa uma inspiração, um ideal de ser humano", opinou o estudante. Ele viu com bons olhos a mudança de ator (agora, David Corenswet). Sob boas expectativas, avaliou ainda o conteúdo do filme de ação. "Num momento em que há tanto preconceito com imigrantes, vale muito ressaltar que o herói vem do espaço e não é terráqueo", disse Mateus.
A velocidade da ação do novo filme de James Gunn, bastante alinhada à linguagem dos quadrinhos, pode até exigir alguma concentração extra do público, mas, de pronto, foi assimilada pelos enturmados leitores da ficção científica fantasiosa dos quadrinhos. A abordagem de temas da aventura ecoou em espectadores como o pastor Raphael de Paula, 33 anos, à frente de fiéis da Igreja Global (Sobradinho). Ele conta que folheava as revistas do herói, desde os quatro anos. "Superman carrega princípios cristãos na vida dele. Desde a série Smallville, a gente nota o diferencial de postura dele, que encampa traços de uma família tradicional; cuidando bem do pai e da mãe e, agora, com o novo filme, tendo a companhia do amistoso cão Krypto", opinou Raphael que até desembolsou mais pela fantasia usada com direito à indefectível cueca vermelha (comprada semana passada) do que economizou na fila do cinema. "Vim assim, pela experiência", pontuou. O novo Superman do cinema, na visão do pastor, está mais propenso a atrair quem gosta da nostalgia vivenciada na infância. "Quanto mais pessoas boas tivermos no mundo, melhor. Tudo beneficiará um mundo que se preocupe mais com os humanos. Em um esforço globalizado", observou Raphael.
Adoradores
Quem assistiu ao filme, com espírito de adolescência, se empolgou, como no caso do editor de vídeo Guilherme Mazzaro, 38 anos. "Gosto muito do trabalho do (diretor) James Gunn, como roteirista e como o diretor, especialmente nos filmes de quadrinhos. O trabalho dele é tocante e engraçado. O Superman traz a carga do filme ao estilo Sessão da Tarde. Para ser visto despretensiosamente, e o filme tem um humor que me agradou. Os personagens têm função na trama", comentou Guilherme. Ele acompanha os desenhos do Batman e Superman, desde a época em que via animações da Liga da Justiça. "Os desenhos despertaram minha curiosidade, e aí, fui para os HQs. Sempre me identifiquei com o Homem de Aço, por ele buscar o que é certo, sempre. Lembrava meu avô, que eu sempre admirei, pelos traços de bondade e generosidade", comentou o fã.
O trio central do filme (protagonista, com Lois Lane e Lex Luthor) cativou Guilherme. "Dá para sentir, de verdade, o quanto Lex (o vilão) tem inveja e é inteligente, e está três, quatro passos à frente do alienígena que parece estar na Terra só para atrapalhá-lo", observa. Nada de lógica científica ou cartesiana, para nortear os espectadores. "Simplesmente, você entende que naquele universo, aquelas coisas acontecem: um universo em que há pessoas super poderosas que soltam raio pelos olhos, que voam e lidam com uma tecnologia absurda", reforça, antes de completar: "É um filme que vai agradar também bastante as crianças, trazendo um novo ar para os heróis de forma geral".
Outro a engrossar a fila dos fantasiados foi o servidor público Ricardo de Oliveira. De sunga, coroando a fantasia de Superman, ele defendeu: "Aqui não tem mico, não. Sempre arranjo uma desculpa para entrar no personagem. Gosto de divulgar minhas imagens, fantasiado, nas redes sociais. Quero ver o filme trazendo emoção e leveza. Claro que, com lutas e batalhas, mas revelando outras características dele, como a relação com a família. Cada vez mais, os personagens, nos quadrinhos, têm buscado se integrar, deixando de fora a tendência a se esconder, como Clark Kent", pontuou Ricardo, que veio de Sobradinho para acompanhar a sessão ao lado do namorado Vinício. Ainda que não guarde reservas quanto à sexualidade, Ricardo crê que o comportamento de se integrar (advindo do personagem) traga impulso no cotidiano de leitores dispostos a atitudes singulares, que reflitam o encorajamento do Superman. "Os últimos filmes trouxeram o herói para uma escala mundial, que não se limita aos Estados Unidos. Ele não é um herói de vizinhança apenas", sublinha.
Vestindo a camisa da família DC
Alheios à promoção brasileira, os atores da produção tiveram a palavra "integração" como ordem para que o cineasta James Gunn afirmasse o alicerce de Superman, a produção que, até agora, já rendeu US$ 220 milhões. Segundo Gunn, em recente entrevista coletiva no Brasil, se os atores brilhavam, em cena, tão bem com falas, tudo funcionaria "cinco vezes mais" nas sequências de ações. Descrito como "meticuloso", pela intérprete de Lois Lane, Rachel Brosnahan, no ingresso dela e do ator que interpreta Superman, Dave Corenswet, no universo (em cinema) da DC, Gunn contou jamais imprimir "assédio moral" na busca por "maior produtividade" dentro do set. "James cavou, profundamente e com antecedência, para ter a certeza de que tínhamos o espírito para ter acesso à família que ele cria, a cada filme. Tudo numa escala de valores que extrapola o que está estampado na tela, e que circula na comunidade do cinema", segundo Rachel Brosnahan.
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Afiado em sentimentos sinceros, e que não demandam "desculpas" por despontarem, o diretor Gunn enaltece o fato de se ver como "um cara simples, e que deposita fé nas pessoas inclinadas a serem bacanas e gentis", algo legítimo no Homem de Aço. "Por que não ser quem somos?", pergunta, já emulando parte da trama que cerca o novo Superman. A quem pergunta que emoção esperar do novo longa, ele agiliza: "A resposta mais verdadeira está com cada espectador. Todo mundo está neste mundo caótico no qual deveríamos nos espelhar na confiabilidade, na beleza e na honestidade do Superman. Muitos adorariam ter alguém como ele para nos salvar. Mas nós carregamos em pequenas proporções das qualidades dele, e, nas atitudes, deveríamos resgatar isso no cotidiano", aponta Gunn.
Agradecimento foi o sentimento do ator central em trabalhar com James Gunn. "Junto com as questões das vestimentas, da definição das criaturas no enredo e na produção dos cenários, há empolgação geral, desde a análise do storyboard. James passa, com satisfação, por duas horas, discutindo três páginas de roteiro. O filme foi empacotado como um épico", comenta David Corenswet. No perfazer da "adorável jornada selvagem", a intérprete de Lois é taxativa no modo pelo qual vê o colega de cena Superman. "Ele acredita no potencial da humanidade. Crê na habilidade e coragem dos humanos", simplifica.
Na realização, James Gunn quis impactar cada espectador, como aos moldes de quando lia os quadrinhos. Sob o prisma de que "cada leitor apreciava à sua maneira", Gunn prezou o mundo dos super-heróis, movimentado por "amigos, mágica, ciência, robôs e cachorros voadores". "Escrevo o que chamo de pré-escrita, que é apenas brincar, anotando ideias, escrevendo uma espécie de tratamento para o enredo e sendo muito, muito aberto — e isso pode durar semanas ou meses; no caso do Superman, durou meses", explicou, sobre o processo de criação em cima do personagem criado em 1938.
A identificação do herói junto a seres comuns foi um dos tópicos aproveitados no roteiro que abraça o relacionamento entre Clark Kent (o Superman à paisana) e a jornalista Lois Lane. "Acho divertido sobre o Superman que o motivo dele para ter um alter ego, seja diferente da maioria dos super-heróis. O motivo clássico está em se proteger (da sociedade). Como você é um super-herói, você é uma espécie de celebridade e atrai toda sorte de perigo; então precisa ser capaz de preservar sua vida normal. Acho que, para o Superman, por identidade (com os humanos), ele ficaria muito feliz em viver uma vida comum", defende o intérprete do personagem central.
Na mente de James Gunn (também roteirista do filme), tudo começa com um "e se todo este universo (da tela) fosse real?". "Quais seriam os sentimentos de Superman, quase (como) um deus que se apaixona por Lois Lane. Ela, pela vez, é uma heroína na perseguição da verdade", defende Gunn. "Lois é tridimensional, pelos lados, se torna completa por ser uma mulher forte em busca de certa vulnerabilidade", explica a atriz. "Lane nunca será uma donzela em perigo. Ela não é unidimensional, e daí o prazer em acompanhar sua jornada — ela sempre foi amalucada", defende Gunn.
Por fim, tal qual um looping, David Corenswet prevê como quer ver o filme recebido. "Gostaria de ver as pessoas querendo repetir a experiência (da telona). Cada um dizer algo como: 'quero voltar nesta mesma montanha-russa, novamente. Ver o espectador estar no escuro, por duas horas, e sair com a sensação de se importar com os outros. Encontrar sua maneira de satisfazer o dia daqueles que têm apreço por cada pessoa. Encontrar o Superman em você. O cara ou a moça capazes de darem um sorriso que possa reconfortar alguém. Ter a habilidade de manter um tom baixo, quando alguém grita com você. Permitir a comunhão de prazeres e empolgações individuais", conclui. (RD)
Diversão e Arte
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