No primeiro dia do Enem 2025, realizado neste domingo (9/11), os candidatos foram convidados a refletir sobre o tema da redação: “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. O texto de apoio principal apresentou dados do Censo de 2022, que mostram um aumento significativo na população idosa do país: pessoas com mais de 65 anos já representam 10,9% da população, um crescimento de 57,4% em relação a 2010, quando o índice era de 7,4%.
Além das informações demográficas e sociais, a prova também destacou duas vozes icônicas da cultura brasileira. A primeira, Rita Lee, trouxe a visão afiada sobre o tema ao afirmar que “a velhice não é doença. É destino”. Já Fernanda Montenegro, aos 96 anos, ofereceu uma leitura poética e madura da passagem do tempo: “A velhice é o tempo em que a vida já foi vivida e, por isso mesmo, pode finalmente ser olhada de frente, sem o pânico do ineditismo”.
Segundo Marcus Barcelos, coordenador de linguagens e professor de redação do Bernoulli Educação, a proposta reafirma o compromisso com o debate contemporâneo, de modo a demandar do estudante reflexões acerca dos principais dilemas do mundo que o cerca. “O Brasil começa a experienciar a chamada 'onda prateada', que diz respeito à elevação do corte etário da população. A expressão faz alusão aos cabelos grisalhos, símbolo da idade madura ou avançada”, justifica.
A declaração de Rita Lee propõe um olhar mais natural e menos estigmatizado sobre o envelhecer, o que o especialista define como um incentivo à desconstrução do etarismo. “É relevante, portanto, ponderar que, se por um lado, o Brasil envelheceu nos últimos anos, por outro, manteve a visão da velhice como uma fase de ruína e improdutividade. Um dos desafios da atual mudança demográfica é, justamente, promover as pazes de um país envelhecido consigo mesmo, o que só ocorrerá mediante a superação do preconceito”, diz.
Já a fala de Fernanda Montenegro ensina sobre a importância da experiência e da memória em uma sociedade que valoriza o novo. “De modo geral, prevalece, infelizmente, a concepção de que a velhice é um momento de vida que não permite projetos, ambições ou conquistas. Estamos falando de mulheres que olharam a vida de frente, sem se deixarem reduzir aos rótulos relacionados à velhice”, disserta Barcelos.
O tema, associado à exclusão e vulnerabilidade, é abordado como parte natural da vida humana. Para o especialista, o melhor arranjo de ideias para esse projeto de texto envolve uma relação lógica de contraste. Ele explica que o primeiro parágrafo da redação ideal seria reservado estruturalmente à perspectiva de enaltecimento da velhice como fase de maturidade intelectual e de experiência de vida.
“No segundo parágrafo, entretanto, o estudante deve discorrer sobre o fato de que, embora a velhice seja um período rico e valioso, ainda subsistem preconceitos que impedem a efetiva inclusão dos idosos na sociedade brasileira”, acrescenta Barcelos.
Vale lembrar que, conforme as premissas da redação do Enem, não é possível que o aluno faça apenas um recorte positivo do envelhecimento sem que haja o contraponto da indicação de dificuldades ou desafios sociais. “Afinal, dessa maneira, não haverá problema a ser resolvido na proposta de intervenção.”
Ao escolher temas que incentivam empatia e reflexão social, a educação auxilia na construção cultural de respeito. “É um papel de desconstrução do etarismo e de problematização do imaginário social da velhice a partir de um prisma histórico. Na Grécia, os anciãos eram reverenciados como sábios a quem os reis deviam escutar. De igual modo, em Roma, os membros do senado eram pessoas de maior corte etário.
A esse respeito, devemos lembrar que a palavra senado partilha a mesma raiz etimológica de ‘sênior’”, exemplifica o professor. “Uma das maiores funções da escola é questionar como invertemos a concepção de velhice enquanto imagem de reverência e admiração para o completo oposto, algo para se desprezar e evitar.”
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Rita Lee e Fernanda Montenegro são figuras importantes na cultura brasileira, referenciadas como símbolos da superação do etarismo. “No caso delas, convém recordar, temos uma dupla condição de exclusão, uma intersecção entre o fato de ser mulher e ser idosa. Nesse sentido, estas e outras mulheres nos provam que é possível ir além e ressignificar a velhice”, completa Barcelos.
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