Entre 40 nações e 62 equipes, a Seleção Brasileira de Churrasco foi destaque no campeonato mundial (WBQA World BBQ Championship), disputado no Chile entre sexta e domingo (21 a 23/11). O país conquistou a competição gastronômica global no preparo de salmão, picanha bovina, frango e um prato vegetariano com o uso de chocolate — além de superar as equipes anfitriãs chilenas, a atual campeã Alemanha e potências gastronômicas como Argentina, Peru, Panamá e México.
A delegação brasileira — composta por 20 profissionais divididos em duas equipes — voltou para casa com o troféu, uma premiação de US$ 5 mil e o direito de sediar, em Brasília, um campeonato nacional chancelado pela WBQA no ano que vem. Além disso, a culinária da capital foi evidenciada. Don Vittório, que comanda duas casas de churrasco no DF, no Sudoeste e no Jardim Botânico, foi um dos responsáveis pelos preparos que levaram o país ao topo do pódio.
Conforme Don Vittório, conhecido como “churrasqueiro das estrelas”, o concurso promoveu alguns desafios. Entre eles, destaca-se o preparo do prato vegetariano (com a obrigação do uso de chocolate de um produtor local) e o corte de coelho — algo que os chilenos estão acostumados a cozinhar, mas inusitado no Brasil. O fator decisivo da vitória, no entanto, foram os condimentos brasileiros. “Nós trouxemos bastante sabor para tudo o que entregamos, e acho que foi o fator crucial. Sabor, apresentação, textura e harmonização dos pratos. Proteína com acompanhamento”, comemora.
Integrante do time 1 do Brasil, Don Vittório relata que o capitão da seleção confiou em sua intuição gastronômica: “Muitas vezes, ele gostaria que as coisas fossem feitas da forma dele, e algumas vezes eu falei para ele 'Confia em mim, deixa eu fazer do meu jeito, vai dar certo'. E ele falou: “Então vai”. Todas as vezes que ele acreditou a gente subiu no pódio.”
Para o churrasqueiro, o título é um reconhecimento inédito que evidencia o berço do churrasco nacional — tradição que define como brasileira. “Acho que isso vai fortalecer muito o mercado, é um reconhecimento maravilhoso para aqueles que sustentam as suas famílias pelo fogo. Fazer churrasco é estar sempre entre amigos”, declara.
Especializado em 37 modalidades de churrasco — entre diversas técnicas e tradições regionais —, Don relembra a abertura do primeiro buffet, período em que atendia artistas na pandemia de Covid-19, e celebra a recente conquista. “Não tem nada sem estudo, sem dedicação. Precisamos estar nos atualizando. Ser campeão mundial traz uma experiência de conexão com o mudo inteiro”, completa.
Para o chef Vinícius Rossignoli, responsável por desenvolver os temperos e acompanhamentos dos pratos inspirados nos sabores do Cerrado, a baunilha e o buriti foram os protagonistas do cardápio — ingredientes que considera ter surpreendido o júri internacional. “A minha maior luta é mostrar que no Brasil temos os maiores e melhores sabores do mundo. Minha função é, através da gastronomia, divulgar o que o Cerrado é e a diversidade que nós temos”, resume.
Ao valorizar técnicas e combinações brasileiras, Rossignoli define o paladar do país como extremamente específico — motivo pelo qual “as pessoas gostam tanto dos sabores do Brasil.” Segundo o especialista, o erro está em superestimar comidas internacionais. “Se a gente passa a utilizar aquilo que é nosso, fazer do nosso jeito, o mundo gosta e quer saber como nós fazemos. Só que a gente tem a síndrome de vira-lata, de achar sempre que o de fora é mais interessante e melhor do que o nosso, quando na verdade nós temos uma identidade gastronômica muito concisa”, opina.
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O capitão da seleção, André Bolla (SP), aponta que a jornada foi longa e financiada por recursos próprios de cada integrante. “Este título demonstra o potencial desperdiçado e o pouco incentivo que a gastronomia nacional, tão reconhecida e valorizada lá fora, ainda recebe no nosso país. Esperamos que esta conquista mude esse cenário”, argumenta.
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