
O dia 11 de agosto marca o Dia Nacional do Hip Hop, instituído pelo Projeto de Lei nº 5.660 de 2023, que também estabelece a Semana de Valorização da Cultura Hip Hop. A data não celebra apenas o gênero musical, mas o movimento cultural que surgiu nas periferias e se consolidou como voz de resistência, principalmente da população negra e jovem.
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Durante muito tempo, o hip hop foi marginalizado e o rap, seu principal elemento, dominado por vozes masculinas. Mas esse cenário muda a cada ano. Artistas como Negra Li, Lurdez da Luz e Dina Di abriram caminhos que hoje são trilhados por uma nova geração de mulheres, que não apenas rimam, mas ocupam o movimento de forma estratégica, crítica e potente. Entre os novos nomes, artistas como Ajucosta, Layza, Duquesa, Tasha & Tracie e muitas outras ganham cada vez mais espaço nas plataformas, palcos e premiações.
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Ao Correio, Ajucosta e Layza falaram sobre a transformação da cena, os desafios que ainda persistem e o poder da coletividade na construção de um futuro mais justo e plural dentro do hip hop.
Mulheres em todas as frentes
Para Ajucosta, o avanço feminino no rap vai além do protagonismo no palco. É necessário ocupar todos os espaços que sustentam a cena. “Eu acredito no poder do coletivo. A gente não tem que ter só mulher em cima do palco, tem que ter mulher negociando, iluminando, dirigindo. A gente precisa mudar a estrutura, não só quem tá cantando. Porque, senão, não mudam as contratações, os horários nos festivais, as oportunidades”, diz. E completa que o público ajuda a educar e a cobrar respeito, mas a estrutura ainda é opressiva.
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AJu também destaca o papel fundamental das mulheres que vieram antes. Para a artista, elas são o alicerce de tudo que está sendo construído agora. “Elas passaram por experiências muito mais pesadas com o machismo. Era uma época ainda mais difícil, mas estavam lá. Isso é resistência. É a presença de uma que permite a de outras futuramente. É uma continuidade”, diz.
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Para Layza, a transformação da cena feminina no rap é fruto de três forças: coragem, conexão e cansaço: “Coragem de muitas mulheres que bateram de frente com estruturas dominadas por homens. Conexão porque a gente começou a se unir mais, somar forças em vez de competir. E cansaço, porque cansamos de esperar por espaço e decidimos ocupar”.
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Layza destaca também o papel da internet nesse processo. “A rede permitiu que vozes da quebrada ganhassem alcance e rompessem com os filtros impostos pelas grandes gravadoras e mídias. Hoje, a quebrada canta, dança e escreve sua história. E as minas estão fazendo isso com força”, diz a rapper.
O machismo ainda está no som, nos bastidores e nas estruturas
Apesar dos avanços, as artistas são unânimes em afirmar que os desafios continuam. O machismo estrutural ainda é uma barreira diária, visível tanto nos bastidores quanto nos olhares atravessados nos estúdios.
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“Muitas vezes a gente precisa provar o dobro pra receber metade. Ainda tem a objetificação, a cobrança estética, o apagamento da nossa intelectualidade. Faltam espaços seguros pra criação, apoio psicológico e estrutura de base. Mas a gente segue rompendo isso com talento, estratégia e presença”, relata Layza
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“Hoje, a gente fala de autoestima, desejo, espiritualidade, periferia, sucesso, dor e poder. Tudo a partir do nosso olhar. Estamos criando uma nova estética, uma nova linguagem, e mostrando que o rap feito por mulheres não é uma cópia do masculino. É um universo próprio. E ele é gigante”, diz Layza.
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Ajucosta reforça o ponto com entusiasmo: “Cada uma tem muito uma personalidade, sabe? É como visitar vários mundos femininos. E isso é encantador”.
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As artistas concordam que o crescimento da presença feminina no hip hop é fruto de um esforço coletivo. E é exatamente nessa união que mora a força do movimento. “Quando a gente faz junto, o movimento acontece de forma muito maior. Um corre aqui, outro ali, tudo ao mesmo tempo. Isso beneficia todas nós”, conclui Aju.
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