Teatro

Cia. Os Buriti apresenta dois espetáculos na Caixa Cultural

Companhia apresenta dois espetáculos: 'À beira do Sol', sobre a loucura e o inconsciente, e 'Cantos do encontro', com homenagem aos músicos

Cena do curta-metragem  O Járdim Mágico; voo de fantasia para as crianças -  (crédito: Divulgação)
Cena do curta-metragem O Járdim Mágico; voo de fantasia para as crianças - (crédito: Divulgação)

Com À beira do Sol, espetáculo-solo que aborda a loucura e o inconsciente, show de músicas autorais, lançamento de videoclipes de animação e duas sessões de bate-papo, a Companhia Os Buriti ocupa a Caixa Cultural com quatro dias de atividades intensas, de quarta-feira a domingo.

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O espetáculo-solo À Beira do Sol conta a história de Arian, personagem que passa a ouvir vozes dizendo que o Sol está indo embora e nunca mais retornará. Por isso, decide assumir a missão de vigiar o astro para impedir que a humanidade mergulhe na escuridão eterna. "A narrativa faz referência ao nosso medo de encarar a escuridão, o vazio, o desconhecido que a noite pode representar. Mas também apresenta uma personagem disposta a se dedicar a adiar o fim do mundo", explica Naira Carneiro, que dirige o espetáculo ao lado de Duda Rios. 

A peça tem duração de 50 minutos, e será apresentada em quatro sessões: na quinta-feira, às 20h, em sessão especial em espanhol; na sexta-feira , às 20h; e no sábado e domingo, às 17h.

A diretora considera ser preciso "vigiar nossa maneira de existir na Terra, a forma como cuidamos dela", e por isso, não considera "tanta loucura" o fato de Arian ter aceitado essa missão. Para ela, essa deveria ser "a missão de todos nós".

Com tema principal da loucura, Naira explica que, no espetáculo, o entendimento deste conceito é ampliado. "Os 'loucos' acreditam no inimaginável, no não palpável, no inacreditável. As crianças também. E todos nós já não fomos crianças?", reflete. Os espetáculos da Cia. Os Buriti são pensados para todas as idades: tanto para as crianças, quanto para os adultos que vão ou não acompanhados dos pequenos. Para a diretora, "através da poesia e da simbologia, qualquer tema pode ser abordado."

A apresentação é inspirada também por três personalidades brasileiras: Arthur Bispo do Rosário, Profeta Gentileza e Nise da Silveira. O primeiro, artista plástico sergipano, passou diversas internações em hospícios durante a vida. Aos 29 anos, viu-se descendendo do céu, acompanhado por sete anjos. Ainda de madrugada, vai a pé ao Mosteiro de São Bento, no centro do Rio de Janeiro, e se apresenta aos frades como "aquele que veio julgar os vivos e os mortos". É, então, levado para um hospício — na sequência da vida, tenta fugir da internação, recebe alta, e, ao não se adaptar à vida no mundo externo, decide permanecer no local. 

Profeta Gentileza, conhecido pela frase "gentileza gera gentileza", foi um pregador urbano. Desde criança, dizia frases que a família acreditava ter sido ditas a ele por entidades espirituais. Aos 20 anos, foge de casa para seguir o que acreditava ser sua missão. Para muitos, a "revelação" foi tratada como sinal de loucura. 

Nise da Silveira foi uma psiquiatra alagoana. Diferenciava-se dos outros médicos da época ao não aceitar os tratamentos agressivos da época, como internação, eletrochoques e a lobotomia. Foi responsável pela fundação da Seção de Terapêutica Ocupacional no antigo Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, que atualmente leva o seu nome; e da Casa das Palmeiras, clínica que acolhia os egressos de instituições psiquiátricas e seguia o tratamento em regime externo. Durante a carreira, escreveu seis livros relacionados à temas da psiquiatria. 

Para Naira, o que conecta os três personagens é que todos seguiram chamados que outras pessoas consideravam loucura. "É bonito perceber como largam tudo para seguir uma missão "impossível", mas totalmente plausível em suas próprias cabeças. Esse espetáculo é uma homenagem à todos que assumem missões que, pelo olhar dos outros, são impossíveis. Em maior ou menor grau. É uma ode à poesia de viver acreditando no inacreditável", diz. 

Na encenação, a cenografia parte de um único elemento (um tecido enorme) e explora diversas imagens simbólicas. "Eu gosto de criar espetáculos que ofereçam espaço para que o público também co-crie, a partir de uma encenação que não entrega tudo, mas que dá asas à imaginação de cada um", finaliza a diretora.

Cantos de Encontro

Segundo espetáculo a ser apresentado na nova temporada da Companhia na Caixa Cultural, Cantos de Encontro é uma homenagem aos músicos e seus instrumentos. O público pode desfrutar do show no sábado e domingo, às 11h. As sessões são acompanhadas pela exibição de três videoclipes de canções tocadas no espetáculo, além de dois bate-papos, que têm início às 12h: Música para a primeira infância - letras, melodias e arranjos, no sábado; Os bastidores da animação infantil, no domingo. 

O espetáculo estreou em 2012, com músicas autorais para crianças de todas as idades. No palco, quatro músicos ficam responsáveis pelo canto, dança, instrumentação, contação de histórias e manipulação de bonecos. As canções são assinadas principalmente por Naira Carneiro, Daniel Pitanga e Marília Carvalho. "Quando eu comecei a montar o espetáculo, eu queria que as músicas falassem sobre os instrumentos que a gente toca, sobre a nossa relação com a música, sobre alguns personagens que pudessem despertar interesse nas crianças", conta Naira.

Para Eliana Carneiro, fundadora da Companhia, Cantos de Encontro é, ao mesmo tempo, "um show musical que tem uma relação com os instrumentos musicais e uma homenagem à paixão desses músicos que fazem parte do espetáculo".

Durante a trajetória do espetáculo, pais que iam ao show compartilhavam com os artistas que gostariam de ter um CD com as canções, para que os filhos pudessem ouvir em casa. Lançado o CD, o pedido se transformou em demanda para clipes. Três das músicas foram contempladas com o projeto: O Jardim Mágico, que virou um curta-metragem; Curió Curí e Voar

Com ilustrações de Rômolo D'Hipólito, Eliana Carneiro e Raquel Piantino, e direção de Naira Carneiro, Carlon Hardt e Marília Carvalho, as animações contam as histórias de uma lenda do Cazaquistão sobre amizade e generosidade, um passarinho mágico que realiza desejos e uma menina cujo maior sonho é voar. 

As três animações são interligadas pelo personagem do pássaro Curió Curí. De início, a animação apresenta o passarinho mágico que traz desejos e, no espetáculo, as crianças pensam nos pedidos que querem fazer a ele. A última canção, Voar, composição de Naira, fala de uma menina com desejo de voar e, para que o sonho se realize, pede ajuda do passarinho. 

Eliana, responsável pela animação de Curió Curí, trabalha com esse tipo de ilustração desde a fundação da Companhia. "Eu sempre fiz livretos coloridos, o nosso programa sempre teve minhas ilustrações e com as histórias dos espetáculos para as crianças levarem para casa e reler, etc. Então essa relação também é muito forte na Companhia e na minha vida", diz.

Serviço

Cia. Os Buriti na Caixa Cultural

De 27 a 30 de novembro, na Caixa Cultural Brasília (SBS Q. 4, Lts 3/4). Ingressos a partir de R$15, à venda no site Bilheteria Local ou na loja física do teatro. Classificação indicativa livre.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 


  • Cantos de Encontro; celebração da música 
e dos músicos
    Cantos de Encontro; celebração da música e dos músicos Foto: Nilo Santos
  • Cena do espetáculo À beira do Sol: exploração do insconsciente
    Cena do espetáculo À beira do Sol: exploração do insconsciente Foto: Diego Bresani
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postado em 26/11/2025 18:18
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