MÚSICA

Milton Nascimento: carreira, legado e despedida dos palcos

Aos 82 anos, Milton Nascimento acumula mais de cinco décadas de história na música brasileira e mundial. De ícone do ‘Clube da Esquina’ a parcerias internacionais, o cantor se despediu dos palcos em 2022, mas segue ativo em colaborações e composições

O cantor Milton Nascimento -  (crédito: Facebook/Reprodução)
O cantor Milton Nascimento - (crédito: Facebook/Reprodução)

Milton Nascimento foi diagnosticado com demência por Corpos de Lewy (DCL), aos 82 anos. Quem revelou a informação foi o filho e empresário do cantor, Augusto Nascimento, em entrevista à revista Piauí. A doença combina sintomas semelhantes ao Alzheimer e a distúrbios motores associados ao Parkinson — diagnóstico que o artista já havia recebido anteriormente.

Nascido em 26 de outubro de 1942, no Rio de Janeiro, Milton é um dos maiores ícones da música brasileira. Aos dois anos de idade, ficou órfão após perder a mãe biológica, empregada doméstica, para a tuberculose. Na época, a filha do empregador o adotou e eles se mudaram para Minas Gerais.

O cantor cresceu em um ambiente cercado pela música: a mãe adotiva estudou a área e o pai adotivo trabalhou em uma estação de rádio. Rapidamente, ele aprendeu a tocar gaita, acordeão e violão. 

A carreira começou na década de 1960, quando se juntou ao movimento Clube da Esquina, revolucionando a música popular brasileira com fusões de jazz, música clássica e ritmos afro-brasileiros. Ao longo das décadas, Milton lançou álbuns aclamados como Clube da Esquina (1972), Milagre dos Peixes (1973) e Minas (1975), consolidando-se como uma referência mundial.

Com mais de 50 álbuns lançados, a carreira musical de Milton reúne elementos de jazz, música clássica, rock e folk. No currículo, Milton conta com colaborações com Elis Regina, Tom Jobim, Chico Buarque, James Taylor, Cat Stevens e Duran Duran.

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Etarismo musical e indignação global 

Em 1998, Milton conquistou o Grammy de Melhor Álbum de World Music com o disco Nascimento, produzido por Russ Titelman. O prêmio reconheceu a contribuição única dele à música global. Em 2025, o artista foi novamente indicado ao Grammy, desta vez na categoria de Melhor Álbum de Jazz Vocal, por sua colaboração com a cantora americana Esperanza Spalding no álbum Milton + Esperanza

No entanto, durante a cerimônia, o brasileiro não foi acomodado nas mesas principais, situação que gerou indignação entre fãs e artistas. Esperanza protestou silenciosamente, colocando uma placa com a foto de Milton e a mensagem "Essa lenda viva deveria estar aqui sentada" na mesa.

A colaboração com Esperanza, porém, rendeu a Milton o título de "divindade musical" pelo jornal estadunidense The New York Times. "Não é nenhuma surpresa que, aos 81 anos, a voz de Nascimento não seja mais a mesma de outrora. Está mais baixa, mais instável e, às vezes, requer mais esforço para alcançar as notas que antes até ultrapassava. No entanto, ela mantém um inegável aconchego. Ela está amadurecida, amaciada. E isso garante uma presença reconfortante em todo o álbum, como a de segurar a mão de um avô", disse o tabloide. 

Milton em Brasília

Milton sempre demonstrou ter uma ligação especial com Brasília. Em entrevista ao Correio, em 2019, ele afirmou que a capital é um dos lugares que nunca ficam de fora de um projeto dele. “As pessoas que gostam da nossa música sempre me receberam muito bem na cidade. Por isso que eu sempre faço questão de voltar”, afirmou.  

Na época, o artista relembrou que já se apresentou em Brasília diversas vezes, inclusive em shows históricos ao lado de Beto Guedes durante o período dos álbuns clássicos Minas e Geraes. “Vivi muitas coisas marcantes em Brasília, principalmente nos shows que a gente fez”, narrou. 

A acolhida do público brasiliense com a turnê Clube da Esquina foi especialmente calorosa. “Na minha carreira nunca vi nada igual. Jamais pensei que ainda fosse viver uma emoção tão grande como essa” , Milton confessou. acrescentando que não diferencia quem vai aos seus shows — fãs antigos ou novos —, enxergando todos com o mesmo valor.

Aposentadoria

A aposentadoria de Milton foi anunciada em 2022, com a turnê A Última Sessão de Música, que percorreu várias cidades brasileiras e também passou pelo exterior. O cantor, então com 80 anos, comunicou que aquela seria a última vez nos palcos, devido a idade, saúde e desejo de encerrar a carreira em clima de celebração.

A repercussão foi imediata: ingressos se esgotaram em poucas horas em praticamente todas as cidades, transformando os shows em eventos históricos. A turnê reuniu diferentes gerações de fãs e contou com participações especiais de artistas que construíram trajetórias ao lado de Milton, como Criolo, Samuel Rosa, Lô Borges e Maria Gadú.

Apesar do adeus aos palcos, Milton não deixou a música por completo. O artista permanece envolvido em composições e colaborações com colegas da área.  

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postado em 02/10/2025 17:06 / atualizado em 02/10/2025 18:01
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