CINEMA

Filmes de terror que conquistaram o Oscar e mudaram a história de Hollywood

De "O Exorcista" a "A Substância", veja quais produções do gênero romperam o preconceito da Academia e levaram o terror ao tapete vermelho

Filmes de terror costumam ganhar destaque em outubro, mês em que o Halloween domina a área de entretenimento e o imaginário popular. Embora o gênero seja contemplado em exibições especiais de cinema e eventos dedicados aos amantes da estética sombria, o terror ainda enfrenta resistência em premiações cinematográficas mundiais. 

No Oscar, a Academia tende a valorizar produções consideradas mais sérias, como dramas e biografias. Segundo Rose May Carneiro, professora de audiovisual na faculdade de comunicação (FAC) da Universidade de Brasília (UnB), o terror é frequentemente visto como produto de entretenimento popular, associando-se a fórmulas sensacionalistas, impacto imediato e apelo ao medo. “O que colide com a ideia de “cinema de prestígio” cultivada pela Academia. Preconceitos históricos e o fato de muitos filmes de terror explorarem o grotesco ou o sobrenatural reforçam essa barreira”, explica. 

A resistência ao terror começou a se dissolver com o surgimento de produções como O Exorcista (1973) — primeiro longa do gênero a disputar o prêmio de Melhor Filme —, O Silêncio dos Inocentes (1991), Tubarão (1975) e, mais recentemente, A Substância (2024). “Esses filmes têm em comum a capacidade de usar elementos do gênero para discutir questões humanas profundas, além de serem realizados com rigor técnico e artístico, conquistando tanto o público quanto a crítica”, afirma Rose.

Conforme a especialista, a comercialização do gênero contribui para a visão de que o terror relaciona-se com entretenimento, e não com arte. “O marketing do terror tradicionalmente enfatiza sustos, efeitos visuais, violência e a experiência coletiva nos cinemas. Isso resulta na percepção de que se trata de um produto “menor”, voltado para adolescentes e fãs de entretenimento fácil”, disserta. 

No entanto, nos últimos anos, obras como Hereditário (2018), Midsommar (2019) e Corra! (2017) elevaram o status do terror. Para a professora de audiovisual, tais produções representam uma renascença do horror autoral. Os longas de Ari Aster e Jordan Peele aliam estética refinada, subtexto social e experimentações narrativas. “Eles mostram que o terror pode ser veículo para discussões relevantes e complexas, o que tem ampliado o respeito do gênero no circuito de festivais, crítica especializada e até premiações”, diz Rose. 

A Substância, primeiro filme de terror dirigido por uma mulher indicado ao Oscar principal, sinaliza uma abertura que há muito era reivindicada. “Coralie Fargeat traz não só um olhar feminino ao terror, mas uma abordagem autoral, questionando padrões de gênero, corpo e poder”, argumenta a especialista. “A conquista reflete movimentos mais amplos por diversidade na indústria, mostrando que mulheres podem redefinir gêneros antes dominados por homens, inspirando novas narrativas e rompendo barreiras institucionais.”

Clássicos como Psicose (1960) e O Iluminado (1980) — indicado ao Framboesa de Ouro, prêmio destinado aos piores do ano   foram subestimados pela Academia em suas épocas, apesar de atualmente serem considerados obras-primas. Rose opina que o conservadorismo da Academia dificultou o reconhecimento de filmes fora dos moldes tradicionais. As obras de Alfred Hitchcock e Stanley Kubrick foram consideradas controvérsias e nichadas, o que revela como o prestígio institucional muitas vezes demora a acompanhar as transformações culturais e artísticas.

Ao inserir temas universais sob uma camada de horror, surgem filmes híbridos que desafiam o preconceito crítico e expandem as possibilidades do gênero enquanto arte. “Diretores atuais usam o terror para falar de racismo (Corra!), luto, trauma (Hereditário), misoginia (A Substância), entre outros”, exemplifica Rose. A partir da consolidação de temas sociais, existenciais e contemporâneos nas produções, a professora acredita que o terror é capaz de conquistar prestígio em premiações. 

Confira filmes de Terror indicados ao Oscar:

O Médico e o Monstro (1931)

A primeira vitória significativa do terror no Oscar. Fredric March levou a estatueta de Melhor Ator, dividindo o prêmio em empate — um feito histórico. O longa ainda recebeu indicações em categorias técnicas, consolidando o gênero nas primeiras décadas da Academia.

O Fantasma da Ópera (1943)

Versão colorida dirigida por Arthur Lubin, foi indicada a quatro prêmios e venceu Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia em Cores. Mostrou que o horror clássico podia alcançar reconhecimento técnico.

Psicose (1960)

O clássico de Alfred Hitchcock foi indicado a quatro categorias: Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Janet Leigh), Melhor Fotografia em Preto e Branco e Melhor Direção de Arte em Preto e Branco. Apesar de não ter vencido, revolucionou o cinema de terror e consolidou Hitchcock como mestre do suspense.

O Bebê de Rosemary (1968)

Roman Polanski conquistou aclamação com essa obra de horror psicológico. Recebeu duas indicações e venceu Melhor Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon). Tornou-se um dos raros filmes de terror da época a ser levado a sério pela Academia.

O Exorcista (1973)

Primeiro filme de terror indicado ao Oscar de Melhor Filme. Recebeu dez indicações e venceu em Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som. A produção de William Friedkin marcou o início do reconhecimento do gênero no cinema mundial.

Tubarão (1975)

Dirigido por Steven Spielberg, foi indicado a Melhor Filme e venceu três estatuetas: Melhor Montagem, Melhor Som e Melhor Trilha Sonora Dramática. Reforçou o potencial comercial e técnico do terror dentro da indústria.

Alien, o Oitavo Passageiro (1979)

O clássico de Ridley Scott conquistou o Oscar de Melhores Efeitos Visuais e foi indicado a Direção de Arte. Misturou ficção científica e terror corporal, definindo padrões técnicos duradouros.

Um Lobisomem Americano em Londres (1981)

De John Landis, venceu o Oscar de Melhor Maquiagem, categoria criada naquele mesmo ano. Foi um marco para os efeitos práticos no cinema de terror.

A Mosca (1986)

A releitura de David Cronenberg venceu o Oscar de Melhor Maquiagem. O filme elevou o terror biológico e grotesco à categoria de arte reconhecida.

Misery (1990)

Baseado no livro homônimo de Stephen King e dirigido por Rob Reiner, garantiu o Oscar de Melhor Atriz para Kathy Bates, cuja performance se tornou referência no gênero.

O Silêncio dos Inocentes (1991)

Único filme de terror a vencer o Oscar de Melhor Filme. Também levou os prêmios de Melhor Diretor (Jonathan Demme), Melhor Ator (Anthony Hopkins), Melhor Atriz (Jodie Foster) e Melhor Roteiro Adaptado. Tornou-se um marco absoluto do gênero e da própria história do Oscar.

O Sexto Sentido (1999)

O sucesso de M. Night Shyamalan recebeu seis indicações, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator Coadjuvante (Haley Joel Osment). Apesar de não ter vencido, consolidou o interesse da Academia pelo suspense sobrenatural.

Cisne Negro (2010)

Misturando drama psicológico e horror, o longa de Darren Aronofsky foi indicado a cinco categorias e garantiu o Oscar de Melhor Atriz para Natalie Portman. Elevou o terror contemporâneo a um patamar de sofisticação estética e narrativa.

Corra! (2017)

A estreia de Jordan Peele no cinema conquistou quatro indicações e venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original. O filme combinou crítica social e terror psicológico, abrindo espaço para novas vozes no gênero.

A Substância (2024)

Dirigido por Coralie Fargeat e estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, o horror corporal francês foi indicado a cinco categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz. Levou o Oscar de Melhor Maquiagem e Cabelo.

Nosferatu (2024)

Releitura do clássico expressionista de 1922, dirigida por Robert Eggers. Recebeu quatro indicações — Melhor Fotografia, Figurino, Maquiagem e Cabelo e Direção de Arte —, consolidando o terror gótico como potência estética no Oscar atual.

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